Quando falamos de
elementos, é isso mesmo que representam o que usamos ao dançar, o leque, lenço,
castanholas, pandeiro, entre outros; cada um deles tem um significado e uso
especial, complementam e objetivam as mensagens que queremos passar, seu uso ou
não nas danças ciganas depende dos costumes do grupo ou das famílias, os
lugares pelos quais passaram e quanto tempo ficaram as afinidades e as origens
ancestrais.
“A dança, como forma de
oração por si só, se basta. É importante dizer que como trabalhamos o tempo
todo com as energias da natureza e a nossa própria, devemos respeitar seus
significados e ter responsabilidade com que o que pedimos e queremos
representar, pois a dança cigana é um ritual, assim seus pedidos podem ser
atendidos, e que assim seja! “ segundo Sumaya Sarran.
Cada coreografia tem seu
significado mágico e cultural em que são usados alguns instrumentos para essa
representação, podendo ser realizada livremente, manifestando sua criatividade
e intuição:
v Dança
do Véu: representa
o elemento ar e expressa a leveza do corpo e a sensualidade.
v Dança
do Xale: representa o
mistério e a magia do elemento fogo. Dançar com o xale representa agradecer
todas as dádivas ao criador, a sua força, o poder de ser mãe, o poder de
seduzir o seu amor e também proteção e família. É usar toda poesia, força e
magia. Nunca deixe outra pessoa pegar o xale, não derrubar, pois ele é a sua
essência feminina. Enfim, dançar com o xale é agradecer, exibir e proteger suas
estrelas.
v Dança
do Leque: dança do elemento ar que representa o amor, a
sensualidade e a limpeza, representa sedução, romantismo e poder. O leque
passeia há séculos nas mãos das mulheres, mas seu uso prático pouco tem a ver
com os aspectos valorizados pela cigana ao dançar. Da maneira que se abre pode
representar as fases da lua e da mulher, seus reais desejos ou apenas o que
quiser demonstrar; é um poderoso instrumento de limpeza energética, magia para
a cura e sedução. Sendo assim, está constantemente nas mãos espertas de uma cigana,
atraindo a atenção para seu mistério e poder. O leque é mais característico nas
danças kalóns, mas pelo seu encanto as mulheres que gostam, usam-no sempre que
podem na sua dança. No seu uso pela sedução, quando se dança com o leque
fechado, significa que ela está comprometida, e quando aberto, significa que
ela está sozinha. Na dança ritualística, dança-se com o leque aberto. O
mais comum, é que se dance com apenas um leque, pois uma mão capta a energia e
a outra a libera, porém, algumas ciganas usam leques nas duas mãos, tornando a
dança, ainda mais bela.
v Dança
da Rosa: elemento terra. Representa o amor, a beleza, a
conquista, sedução e a sensualidade. A rosa é a beleza interior e a beleza
exterior. A rosa vermelha na boca que os ciganos costumam levar em suas
danças – presa entre os dentes – levam para presentear a mulher que está
envolvida na dança. As alianças para os ciganos, são simbolizadas por duas
rosas vermelhas, em seus casamentos. Essa é uma dança de sedução, vaidade e
alegria. Dança-se com uma rosa em uma das mãos, a outro deve ficar livre para
os movimentos. Quando dançada publicamente, jamais deve-se passar a rosa pelo
corpo, pois é considerado vulgar. Somente passe-a pelo corpo, quando for
dançada à dois, com intuito de seduzir. Há também a dança da rosa ritualística,
onde a rosa é oferecida para alguém, para que se faça um banho com suas
pétalas. Escolha a rosa de acordo com o objetivo de quem vai receber,
rosa vermelha - sedução, rosa cor de rosa - namoro, rosa amarela - prosperidade,
rosa branca - paz.
v Dança
das Fitas Coloridas: elemento
água representa as lágrimas de alegria e tristeza derrubadas pelo povo Cigano. Não lamento, mas também a comemoração.
Representa a limpeza, alegria e infantilidade. Dançar com fitas é quase
uma brincadeira de criança, alegra qualquer tipo de ambiente, festeja os
nascimentos e casamentos, os movimentos das fitas rodopiantes manifestam o
ritmo da vida e a alegria de fazer parte dela. As Fitas são mais utilizadas nos
ritmos rons, porém conforme o que se quer passar a dança se adéqua a qualquer
ritmo alegre.
Significado
das Cores nas fitas Ciganas
As fitas ciganas são
muito usadas e bastante conhecidas por seus poderes milagrosos de desagregar
energias condensadas, enfermiças, e até mesmo afastar energias negativas e
transmutar outras.
Cada fita tem sua vibração harmonizando, equilibrando, fortalecendo, curando,
positivando, acalentando, limpando, purificando, gerando abundância, entre
outras.
As fitas ciganas e suas
atribuições:
Branca- função: promove a
paz interior, tranqüilidade, estabilidade emocional, acalma a alma. Indicação:
tira a ansiedade, a insônia, agitação e stress.
Vermelha- função:
desperta a força de vontade, paixão, equilíbrio nos
relacionamentos. Indicação: depressões, traumas amorosos, sentimentos de
solidão e pessoas sem prazeres.
Azul-clara- função:
serenidade, segurança, confiança, equilíbrio emocional. Indicação:
inseguranças, medos, pessimismo, pessoas que se sentem derrotadas.
Amarela- função:
prosperidade, concretização, equilibra a mente, idéias novas. Indicação:
problemas financeiros, pessoas que não conseguem por em prática seus desejos.
Dourada- função: proteção
divina, elevação da alma, harmonização espiritual, desenvolvimento da
mediunidade. Indicação: tudo relacionado ao aperfeiçoamento do espírito.
Verde- função: cura e
equilíbrio físico, vitalidade. Indicação: problemas de saúde, energias
enfermiças.
Laranja- função: alegria,
entusiasmo, restabelece a mente, corpo e espírito. Indicação: doenças
somatizadas por traumas e tristezas.
Rosa- função:
auto-estima, compreensão, compaixão, aceitação, amor universal. Indicação:
sofrimentos emocionais, frustrações, luto.
Violeta- função:
transmutação, ajuda a mudar conceitos, formas de pensamentos, cura em todos os
gêneros. Indicação: miasmas de pensamentos e sentimentos, perturbações mentais,
dores no corpo, obsessões e traumas.
Marrom- função:
concretizadora, traz as pessoas para o presente, para realidade. Indicações:
pessoas que vivem no passado, ou no presente sem entender, afasta espíritos
sofredores.
Azul royal- função:
proteção em todos os níveis ( físico, mental, emocional,
espiritual). Indicação: corta os cordões energéticos negativos, afasta e
encaminha os espíritos menos esclarecidos.
v Dança
do Pandeiro: dança
dos quatro elementos, denota a alegria e sugere uma festa. Serve também para
purificar o ambiente. O pandeiro traz a alegria do sol, saudando-o com
inúmeras fitas coloridas, representando seus raios protetores e vivos. Como
todo instrumento que faz barulho, ele tem como função expulsar os maus
espíritos ou energias negativas, abrindo caminho para o povo festejar. Sua
mensagem é mover, transformar o que está parado em ritmo, revigorar o nosso
corpo com a alegria e o calor da dança, assim como o sol faz conosco. O uso das
fitas pode ter nascido como um calendário para marcar eventos importantes e a
idade; para saudar a chegada da primavera; para representar através das cores
das fitas pedidos ou bênçãos. É mais utilizado nas danças do grupo Rom,
acompanhando violinos e outras percussões, é preciso habilidade e conhecimento
dos ritmos utilizados.
v Dança
das Tochas ou Fogueira: Mostra
a fúria e o poder do fogo através das tochas acesas que reverenciam este
elemento. Representa a purificação e a limpeza pelo fogo.
v Dança
dos sete véus: para os ciganos essa dança representa uma
despedida de solteiro. E os véus coloridos representam as sete cores do
arco-íris, simbolizando o amor e a sensualidade. As cores dos véus representam
os quatro elementos. A dança dos sete véus é um dos mais famosos,
belos e misteriosos ritos primitivos. Embora muita gente acredite que se trata
da mais antiga versão do strip-tease, a dança não tinha um caráter exclusivamente
erótico. Não era praticada em ritos de fecundação, mas pelas sacerdotisas
dentro dos templos da Deusa Egípcia Ísis. . A sacerdotisa oferecia a dança para
a Deusa Isis, que dentro dela existe, e lhe da beleza e força. Essa dança era
realizada em homenagem aos mortos. As sacerdotisas, em seus templos, retiravam
não só os véus, mas todos os adereços sobre o seu corpo, para simbolizar a sua
entrada ao mundo dos mortos sem apego a bens materiais. A Dança dos Sete Véus pode ser realizada,
também, em homenagem à Deusa Babilônica Ishtar ou Astarte, deusa do amor e da
fertilidade. Segundo os babilônios, Tamuz, seu amado teria perdido a vida e
levado para o reino de Hades, o submundo, e Ishtar, por amor, resolveu ir
também para o reino de Hades. Determinada, Ishtar atravessou os sete portais do
submundo, e em cada portal deixou um de seus pertences: um véu ou uma jóia
(cada um deles representando um de seus sete atributos: beleza, amor, saúde,
fertilidade, poder, magia e o domínio sobre as estações do ano). O véu representaria
o o que ocultamos dos outros e de nós mesmos. Ao deixar os véus Ishtar revela
sua verdade e consegue unir-se a Tamuz. Mais tarde passou a simbolizar as
sete cores do arco-íris, os sete planetas conhecidos na época (que estão
representados na dança como possuidores de qualidades e defeitos que
influenciam o temperamento das pessoas) e os sete chacras (pontos energéticos
do corpo humano). Com isso, a dança passou a ser realizada por bailarinas, que
limitavam-se a retirar os véus. A retirada e o cair de cada véu , significam o
abrir dos olhos, o cair da venda, que desperta a consciência da mulher. E a
evolução espiritual. Existe também um outra versão que diz que a Dança dos Sete
Véus trata-se de um dança hollywoodiana (Salomé) que foi unida a dança do ventre
ganhando fama e se propagando com ela. A vestimenta: A bailarina se envolve com os
sete véus. Os véus podem ser das seguintes cores: vermelho, laranja, amarelo,
verde, azul, lilás, branco. A vestimenta da dança, embaixo dos sete véus, deve
ser preferencialmente de cor clara, suave. A retirada de cada um dos véus,
presos ao corpo da dançarina, representa a dissolução dos aspectos mais
nefastos e a exaltação das qualidades pessoais. O véu vermelho está associado a
Marte; sua retirada significa a vitória do amor cósmico e da confiança sobre a
agressividade e a paixão; O véu laranja representa Júpiter, que dissolve o
impulso dominador e dá vazão ao sentimento de proteção e ajuda ao
próximo. O Sol está ligado à cor amarela, que elimina o orgulho e a vaidade
excessiva, trazendo confiança, esperança e alegria; o véu verde vale para
Mercúrio, que mostra a divisão e a indecisão sendo vencidas pelo equilíbrio
entre os opostos; Vênus é o véu azul-claro, a qual revela que a dificuldade de
expressão foi superada, em prol do bom relacionamento com os entes queridos; o
lilás, que representa Saturno, mostra a dissolução do excesso de rigor e
seriedade, a conquista da consciência plena e o desenvolvimento da percepção
sutil. Finalmente a Lua está associada à cor branca ou ao prateado ( a
união de todas as cores ). A queda do último véu mostra a imaginação
transformada em pensamento criativo e pureza interior. Esta é uma dança mais
utilizada na dança do ventre que na cigana. Retira- se cada véu com muita
sensualidade, habilidade e naturalidade. Fazendo movimentos ondulatórios,
movimentos laterais de cabeça, movimentos rotatórios e ondulatórios com as
mãos, movimentos de transe. A música - Deve ter andamento lento e
duração longa (aproximadamente 7 a 8 minutos). A bailarina deve assumir
uma personagem: a sacerdotisa em busca da sua verdade. O despertar de sua
consciência, de sua força e poder, dentro do mais perfeito equilíbrio
v Dança
do Punhal: elementos ar e terra. Significa lutas, disputas,
fúria e pode simbolizar a limpeza do ambiente e do corpo. Representa o corte, a
força e a limpeza. O punhal representa a vontade de vencer, simboliza
disposição para enfrentar o inimigo. É associado à honra, vitória e superação
dos obstáculos. O punhal da cigana, sempre tem fitas coloridas e pedras. A
dança pode ser executada sozinha ou com várias mulheres. Ele nunca é tirado de
lugar nenhum, a dança inicia com o punhal na mão, isso porque as ciganas
guardam o punhal preso na perna, na altura da coxa, e durante a dança não é
possível tirá-lo dali, uma vez que as ciganas não mostram as pernas. O punhal é
considerado ritualístico e deve ser guardado num tecido vermelho. Para
fazer uma limpeza astral com o punhal, em si, ou em outras pessoas, basta
apontá-lo para os 4 cantos cardeais, norte, sul, leste e oeste, invocar uma
divindade de sua afinidade e fazer passá-lo próximo ao corpo, frente e
costas. Dança do Punhal - Assim como a dança da espada, a verdadeira
origem da dança com o punhal não tem comprovação histórica e há diversas versões
sobre o significado dessa dança. É praticamente impossível uma afirmação
precisa sobre sua real origem. Em algumas fontes de pesquisa, há afirmações de
que seria uma dança derivada da dança da espada. Porém, a dança do punhal é uma
dança muito forte e marcante, diferente da dança com a espada. Uma das versões
conta que é uma homenagem a Deusa Selkis (Rainha dos Escorpiões), simbolizando
morte, transformação e sexo. É possível que seja uma incorporação da dança
cigana à dança do ventre, retratando amor, mistério, magia, paixão, luta e
morte. Alguns estudos realmente nos levam a crer que o povo cigano foi pioneiro
na inserção do punhal em danças femininas. As gawazees (tribo cigana)
utilizavam o punhal como arma de defesa e na execução da dança, elas o usavam
para transmitirem mensagens umas para as outras. Os registros mais antigos nos
levam a Istambul e Constantinopla, mais precisamente às mulheres que serviam o
sultão. Algumas fontes afirmam que as odaliscas precisavam sobreviver no harém.
Dessa forma, disputavam com as outras a atenção do sultão, tomando seu punhal e
dançando com ele para impressioná-lo. O sultão escolhia apenas uma odalisca
para passar a noite com ele, podendo futuramente tornar-se uma de suas esposas
ou concubinas. O posto mais alto dentro de um harém atingido por uma mulher era
sultana, ou seja, mãe do sultão. Nos haréns, a comunicação entre homens e
mulheres era proibida. As mulheres usavam a dança com o punhal como código de
linguagem. Hoje em dia, utilizo esses gestuais (códigos) nas mostras de dança
para que o público conheça um pouco mais sobre esse estilo de dança.
Seguem os
significados dos gestuais:
·
Punhal na mão, com a ponta voltada para fora: a
bailarina está livre;
·
Punhal na mão, com a ponta voltada para dentro: a
bailarina é comprometida;
·
Punhal na testa com a ponta para baixo: magia;
·
Punhal entre os dentes: desafio (a mulher mostra
nada temer);
·
Punhal coma ponta no quadril: força feminina;
·
Bater o punhal na bainha: chamado para o embate;
·
Punhal entre os seios: paixão;
·
Passar o punhal pelo corpo: sedução;
·
Equilibrar o punhal sobre a testa: domínio;
·
Desenhar círculos no ar com o punhal: limpeza
energética astral;
·
Passar a lâmina rente ao próprio pescoço: ameaça de
morte.
Dicas: Por ser uma dança forte,
cuidado com o manuseio do punhal para que você não seja mal
interpretada; Decore seu punhal com pedras, fica bem
delicado; Estilos musicais idéias para essa dança: músicas turcas ou
estilo andaluz; Trajes sugeridos: calças bufantes e
boleros. Curiosidade: para a execução dessa dança são confeccionados
punhais específicos para tal, sem corte.